quinta-feira, 7 de abril de 2011
Falta ética e sobra hipocrisia
Hoje ao observar as conversas de meus amigos muitos virtuais e vários pessoais, me deparei com a seguinte pergunta: “ENQUETE ÉTICA: Vc. Acha que jornalista pode e deve ter lado político? E se tiver, o jornalista deve revelar qual é o seu lado?”.
A pergunta é extremamente interessante, mas talvez, não seja muito fácil de ser respondida. A questão entre o jornalismo e a tão famosa, dita e imaginária ética, sempre foi e sempre será, uma máscara de dois lados. Particularmente, tenho lá minhas dúvidas sobre o verdadeiro sentido da palavra “ÉTICA”. A meu ver, a ética é algo próprio e individual. Uma espécie de “código de conduta”, onde cada qual pode alterá-lo ou reescrevê-lo, ao seu bem próprio, segundo seus interesses.
Atrevo a comparar a ética com a humildade. Entendo que são duas palavras de peso, mas que são facilmente confundidas. Para mim, a humildade consiste no poder, que cada um tem, sobre o direito de reconhecerem suas limitações. Sabendo respeitar as distâncias entra sua capacidade de poder, ser, saber ou agir em comparativos feitos, de si mesmo, com outros que lhes sirvam de exemplo. Para outros, a humildade é vista como a obrigação que você tem em comer os excrementos que outros descarregam.
A “ÉTICA” pode ser assim, uma bandeira ilusória, que muitos citam na tentativa de se tornarem mártires, buscando uma realização pessoal, profissional ou apenas uma encenação para esconderem suas próprias hipocrisias. Aliás, gosto muito da palavra “HIPOCRISIA”. Ela serve para definir bem a personalidade de muitas pessoas que encontramos no dia-a-dia.
Mas voltando à enquête lançada, jornalista deve ter lado político sim! Porém, antes de ter lado político, o jornalista ou profissional de comunicação deve ter, acima de tudo, bom senso. Isso mesmo. Bom senso. Esta é uma qualidade que todos deveriam ter, não apenas jornalistas, mas todos os profissionais de qualquer área.
O jornalismo e seus membros se tornam alvos fáceis desta discussão. Afinal de contas, somos nós, os primeiros a noticiar as coisas que acontecem em nosso meio habitual de vivência e atuação.
Mesmo acreditando que essa “parcialidade” deve existir, mesmo sabendo que todos deveriam ser imparciais, sei assim como você, que a imparcialidade também ficou nas aulas teóricas sobre jornalismo. Mas é aí que entra aquele “negocinho”, o bom senso.
Sabemos que existem vários tipos de jornalistas. E quando falo isso, não falo de tipos de personalidades. Falo sobre tipos de atuação. No meio político temos vários tipos e vários nichos de trabalho. Eu por exemplo, sou um jornalista de agência. Então, meu foco é tornar a vida de meus assessorados a mais tranqüila possível. Eu posso ter lado, opinião e ações que buscam favorecer esses clientes. Estou sendo antiético? Não.! Estou fazendo meu trabalho da maneira como foi solicitado e buscando atender as exigências de quem precisa dos meus préstimos. Aviso: apenas em horário de trabalho. Sei que pode ser meio confuso isso tudo. Mesmo sabendo que não sou, em muitas vezes, o tão imparcial como manda a cartilha ética, acho que também não deixo a ética de lado, fazendo o que tenho que fazer. Complexo não é mesmo? Sei que muitos irão discordar. Mas como a ética é minha, eu a reescrevo dentro dos meus próprios interesses. Mandem a conta que depois eu pago o preço pelas minhas palavras.
Mas existe outro tipo de jornalista. Esse tipo trabalha para veículos de comunicação, onde a grande maioria usa bordões de imparcialidade, mas que para funcionarem, precisam de verba. E nós sabemos de onde vem essa verba. Voltando aos jornalistas, estes sim devem ter um cuidado maior não apenas com a qualidade de seu trabalho, mas também, com aquilo que representam. Considero que seja um pouco mais complicado trabalhar em uma rádio, TV, jornal, revista ou site em que você deve, obrigatoriamente, estar se policiando.
Não adianta você dizer que o veículo de comunicação, no qual você trabalha, é imparcial e na verdade ele não ser. Não adianta um veículo se por a uma posição intocável e irretocável quanto sua credibilidade e assim como seus jornalistas “imparciais”, darem explícitas demonstrações contrárias às suas versões ou ações.
Nesse emaranhado de gato, o que reflete é a opinião de quem recebe sua informação. Você jornalista de lado definido, pode ter sua opinião sim, mas deve se ater ao “BOM SENSO” de saber como expor isso. Se quer realmente ser um formador de opiniões. Falar que ter lado e achar que isso é ter uma espécie de credibilidade, pode até ser, mas propaganda explícita, peleguismo, puxa-saquismo, subserviência pública e escancarada, que chega a ferir a paciência alheia, já se torna “HIPOCRISIA”.
Ser FAKE de jornalista de transparência, também não esta com nada. Tenho muitos amigos na profissão, que tem seus lados políticos definidos, e que executam um primoroso trabalho profissional. Isso é fácil de fazer. E poderia enumerar vários nomes aqui, que tenho certeza que você poderia não compreender, mas sei que concordaria, simplesmente pela postura que eles tem como profissionais.
Portanto, vemos que ter lado não é difícil nem é proibido. O difícil mesmo, é saber como você pode influenciar positiva ou negativamente com o seu lado e com suas opiniões, por vezes, cômicas. Quanto à imparcialidade, ela fica por conta de cada um. Mas desde que saibam que se dizer “imparcial”, implica uma responsabilidade muito grande, onde as maiores cobranças, surgem daqueles acompanharam suas notícias. Você se torna um pedaço de carne exposto em um açougue. Dependerá muito, do seu consumidor, definir o que você pode parecer para ele. Uma carne de primeira ou de segunda.
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Concordo com essa sua visão. Claro q alguns pontos eu gostaria de bater um papo e, digamos, colocar os pingos em alguns "is". Rsrsrs
ResponderExcluirNo geral, a ética, em todo e qualquer seguimento profissional, tem seus valores próprios. Não adianta eu querer q aquela q rege o meu seja a mesma q rege o seu.
Parabéns pelo post e pelo dia do jornalista também.
Análise profunda e digna em ser relida sempre quando o desafio da liberdade individual depara-se no que é estabelecido como "ética". Você, meu sábio amigo,desafia o que está confinado aos interesses nessa contemporaneidade onde a tal "Ética", tornou-se em muitos momentos um mecanismo de controle,usado sempre a proteger o privado sobre o coletivo. Penso que se há Ética, essa sim, pode ser muito bem vislubrada na riqueza de suas idéias, principalmente quando a disseca a palavra,escavando-a como um sítio arqueológico,sendo que, a cada centrímetro, depara-se com a intencionalidade dos atos.
ResponderExcluirMeu prezado, agradeço muito pela sugestão dessa leitura tão prazerosa.
MARCUS FLEURY @ffoucault
Parabéns pelo artigo! Concordo com você, qualquer cidadão independente de sua profissão, tem sim o direito de ter um "lado" politico ou qualquer outro. Mas, o que o fará ser respeitado e considerado ético, será o mencionado BOM SENSO, não deixando que a sua vontade ou escolha pessoal se sobreponha as prerrogativas de seu trabalho profissional.
ResponderExcluirDebate interessantíssimo, caro Souza. Questão pontual que parece muitas vezes uma dança de cadeiras entre os profissionais, seja atuando na cobertura política ou em assessoria. As influências são transmitidas ora implicita, ora explícitamente. Cabe ao receptor digerir sem influenciar cegamente.
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