sexta-feira, 28 de outubro de 2011

FANTASMAS DE AGOSTO IV


Fantasmas de agosto

Capitulo IV

Sonhos

Souza Filho


Sua vida seguia a mesma rotina de sempre. As visitas até a província para os reabastecimentos eram mais rápidas, pois não haviam mais as tradicionais paradas no píer do porto. Há dois anos o local não tinha mais a presença do sinistro estranho. A idade de seu pai também avançava em uma velocidade, aparentemente, desproporcional ao tempo dos anos passados. Há muito, a alegria da casa de três pessoas, deu lugar a preocupações constantes. Os sorrisos foram substituídos por olhares apreensivos e amedrontados. Sons e ruídos eram evitados para manter-se o descanso constante do velho. As visitas médicas foram descartadas pelos próprios médicos. Muitas eram as suposições de sua debilitação e a mais provável era realmente a sua idade. Não havia a quem culpar. Os janeiros fizeram seu papel por mais de oitenta anos na vida de seu pai. A cada chegada, trouxeram a ele, mais um ano. Bastante magro e fraco, mas muito bem cuidado pela esposa e filho, dizia não ter nada do que se arrepender. Seu sorriso apontava que não temia a tão próxima morte, mas se entristecia pela ausência. Aquela era a sua vida, a sua família e a sua casa. A casa que talvez o tivesse, em pouco tempo, apenas como lembrança.

Todos se perguntavam sobre ela. Se realmente era sombria ou fria. Se possuíam atributos suficientes para entrarem em um reino místico de iluminação ou em um tártaro causticante e aromatizado com enxofre. A morte era o misto de fascínio para alguns e temor para outros. Talvez, fosse o fim da vida, o ponto mais misterioso da própria vida. A pandora de todas as dores, sofrimentos, acalentos, terrores, dúvidas, o tudo e o nada. Mas o velho se mantinha confiante. Apegava-se nos versículos que o filho havia lido das páginas Sagradas. Acreditava, verossimilmente, que em breve, teria a chance de poder ser um anjo sentinela de sua família. Julgava-se um homem bom e realmente, não havia nada que pudesse pesar negativamente em seu julgamento, caso houvesse algum. As portas do Éden, aos olhos de sua família, se abririam com o avistar de seus passos.

Não era mais a velha cadeira que sustentava o seu pouco peso. Com olhos lacrimejantes e com o corpo deitado no macio colchão de capim, estrategicamente colocado, desta vez, ao lado da lareira, o homem ouvia as poesias que o filho passou a escrever. Nem sempre era possível ouvir os seus finais. As lágrimas escorriam e seus olhos adormeciam, sempre com uma das mãos segurando a mão de seu rebento. Todos passaram a dormir diante da lareira desde então. O sono era mais leve e sempre interrompido a cada discreto movimento ou suspiro mais fundo na respiração do ancião.

Era no silêncio destas noites, que ele voltava seus pensamentos aos seus sonhos. Parecia estar se tornando imune a todos os fantasmas que o atormentava, ou talvez, tivesse se acostumado a eles. Mas ainda havia um que fazia o frio descer sua espinha e sentir o amargo gosto de bile subindo até sua garganta. Às vezes, o intervalo sem sonhar com ela era muito longo. Este período era alimentado pela dúvida e pela sua imaginação. Havia apenas uma pergunta. Era a imensa vontade de saber quem era ela e se era real. Se existia. Se ela era alguém de carne e osso ou apenas uma alma errante, saída de suas lamúrias e vagações. Algum espírito que tinha o único propósito de perturbá-lo. Temia quando a via e se perdia quando lhe faltava em suas visitas noturnas e inconscientes. Durante alguns períodos as suas aparições eram mais freqüentes. Em outros, parecia que assombrava outra vida e deixava a dele a sua espera.

Saudade ou anseio? Medo ou angústia? Paixão ou devaneio? Amor ou esquizofrenia? Teria ele se apaixonado por um espírito ou apenas enlouquecido. Apenas o moribundo pai sabia da existência dela. Caso fosse uma loucura, apenas essas duas pessoas saberiam a verdade. Ela era o segredo que incomodava. Uma nova noite, uma nova leitura de uma velha poesia, os velhos colchões no chão, as luzes fracas das poucas brasas ainda acesas na lareira e uma visita. Ela atravessou a sala e pulou os corpos dos pais. Pairou sobre os inertes e observou silenciosamente o seu alvo. Era um espectro que pairava sobre um homem adormecido. Eram as mãos que roçavam seu peito e os caninos que mordiam seus ombros. O hálito que baforava suas orelhas e o cabelo que se emaranhava na curta e cerrada barba pouco crescida. Tornou-se o perfume que invadia suas narinas e o calor que quebrava a temperança da noite fresca. Era o toque que arrepiava prazerosamente a pele desnuda e os lábios que adocicavam os seus. Era o satisfatório incômodo que perturbava seu sono e que invadia seus sonhos de maneira atrevida e suave.

Ela o segurou pelas mãos e o fez erguer-se de maneira tal, que parecia o fazer flutuar como ela. Arrastou-o pela sala e cruzaram a porta. Atravessaram a velha varanda de madeiras rangentes, sem que nenhuma delas fizesse um ruído sequer. Ela rumava convicta de onde queria chegar. Ele apenas a seguia. Não era medo o que podia ser visto no rosto dele, mas não era uma simples intenção de caminhar, sob a gigantesca e clara lua, que se via no rosto dela.

Aquela era a copada da velha árvore onde seu pai se recostava para observá-lo com seus professores anos atrás. Sua sombra não resistia à luz da Lua. Essa luz penetrava por entre suas folhas e clareava a verdejante relva aos pés de seu tronco. Foi neste tronco que seu corpo foi arremessado. A pele se duas costas, sofreram as primeiras ranhuras no choque com a dura casca. Velha, mas ainda sim, muito resistente. Resistência, essa era a única coisa que não poderia se ter naquele momento. Seria em vão. Resistiria ao que ele esperou? Resistiria à chance de matar toda a saudade que sentiu? Resistiria em lutar contra seu próprio corpo que tomava uma forma mais côncava?

Sentia sua língua sendo empurrada e friccionada por outra língua, enquanto uma perna se erguia e buscava se entrelaçar em sua cintura. Eram carnes de fêmures macias e lisas de pêlos finos e dourados. Não sabia o que fazer com as mãos que tripudiavam em acariciar suas coxas ou se manterem fixas no enlace de seus quadris. As mãos dela se revezavam entre segurar sua nuca para manter o beijo constante e o rasgar de sua camisa. Mantinha um olhar desesperado e desejoso, quando o fitava no fundo de seus glóbulos. A respiração já tomava formas selvagens e quase animalescas. De forma quase que abrupta, arrancou a própria blusa de tecido fino e transparente, deixando os seios à mostra e suas aureolas que sustentavam seus mamilos enrijecidos fazendo movimentos repentinos e seqüentes, roçavam-lhe o tórax e o abdômen.  Eram enlouquecidos os seus movimentos e causavam-lhe tremuras ao sustentar o peso de seu corpo e do corpo, de algo que agora, tomava forma humana e mais do que palpável.
Sentia o roçar de seu corpo junto ao dele e o giro frenético de sua cabeça e cabelos que se colavam à pele molhada. Com o dobrar de seus joelhos, a relva recebia os amantes unidos em seus desejos. Nos pensamentos dele, não eram mais as preocupações com o pai, que tomavam conta de sua mente. Se estivesse dormindo, tinha a certeza de não querer acordar jamais. Se estivesse acordado, desejava naquele momento, não dormir.

Sob a copa da velha árvore, ele se mantinha em um abraço único com o fruto de seus sonhos. Sentia-se bem daquela maneira. Seus braços o envolviam de forma confortadora. Não sabia por qual motivo, aqueles olhos escuros lhe transmitiam mais conforto e acalento do que medo. Gostava de olhar aqueles olhos. Tentava imaginar o que eles queriam dizer e principalmente, o que eles tentavam esconder. Quando percebia sua intenção de olhar no fundo de sua alma, caso tivesse uma, ela desviava seu olhar ou simplesmente, deixava as pálpebras ocultarem a negritude de sua visão. Ele mantinha os dele sempre abertos. Sempre perspicazes e atentos, a qualquer movimento que seu corpo fazia ou a sua face. Via o morder dos lábios e as mutações divinas de seu rosto, agora não mais de tonalidade alva, mas sim, escarlate.

Longe dali seu corpo se contorcia junto da lareira, enquanto assustava sua mãe, que já sentada em uma cadeira, era a espectadora de suas convulsões. Observava o debater do filho e sua possível luta com alguma outra coisa. Via o suor saltar-lhe dos poros, encharcando o lençol branco e alvo, enquanto murmurava coisas desconexas e sem sentido algum. Seus sussurros misturavam aos outros sons que se assemelhavam aos grunhidos dos animais da floresta em suas noites de cio. Sentia que em determinados momentos, o filho procurava pelo oxigênio que parecia lhe faltar. Mas ela apenas observava. Não tinha certeza, mas era capaz de supor do que se tratava.

Ela tinha esse dom. O dom de causar tremores e abalos à sua estrutura serena e calma. Beijos frenéticos e igualmente úmidos ritmavam o momento que não sabia ser real. O orvalho da relva trazia mais arrepios ao tocar aquela pele amedrontada, mas imbuída de desejos quase sarcásticos com a urticária que a grama causava. Era esta mesma vegetação, que servia de cobertura à terra, que se deitava e quebrava com o rolar dos contorcionistas que não se separavam.  Um calor que queimava de maneira cruel os seus íntimos era o prelúdio que o ápice do prazer estava próximo. Gêiseres e vulcões eram brasas mornas diante deles. Esta febre, não reduzia, nem mesmo diante da certeza de estarem sendo observados. Os gemidos ocultavam qualquer possibilidade de se ouvir outro tipo de som ou ruído de algo que se aproximava. Dentes e unhas tiravam a atenção dos pensamentos e o poder de um mortal de se concentrar em qualquer coisa que não fosse apenas aquele momento.

A loucura foi quebrada por gemidos cansados que eram movidos por estocadas e movimentos mais lentos que os de antes. Sentia pela primeira vez, uma sensação mais intensa que qualquer outra que pudesse imaginar ser possível nessa vida. Algo inexplicável, que mesmo que já tivesse lido sobre isso, em algumas páginas mais profanas e perversas, quase proibidas para a época, jamais poderia mensurar o que realmente era este sentido. Era como se o seu corpo estivesse se exaurindo de suas forças e mesmo assim se sentia bem. Era como um alívio de pesos guardados por longos anos em um único momento.

Despertou do momento mais impressionante de sua vida direto para o inferno. Ainda aturdido e tentando entender o que lhe aconteceu, percebeu que um vulto o observava. Preferiu milhares de vezes, enfrentar todos os seus demônios juntos, ou até mesmo abraçar a morte, ao ter que reconhecer o vulto de sua própria mãe, a observá-lo em meio a penumbra do ambiente.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

FANTASMAS DE AGOSTO III


FANTASMAS DE AGOSTO

Capítulo III

O mês oito


Souza Filho


Devido aos seus constantes esforços, ajudando o pai nos trabalhos da propriedade, o garoto desenvolvia com um porte físico melhorado, se comparado a outro jovem de sua idade. Seu trabalho se intercalava aos seus estudos e seus estudos dominavam seu maior interesse. Talvez, a enorme quantidade de livros que havia lido, já não era mais suficiente para o tanto que ele já havia acumulado. Seus braços e pernas não paravam um segundo sequer durante seu trabalho, assim como seus pensamentos que borbulhavam como as espumas das ondas ao tocarem a praia da orla. Eram tantas histórias que brotavam, principalmente durante a noite, que ele passou a ordená-las e coloca-las em suas folhas. A cama, onde as horas sem sono e olhos abertos de antes, dava espaço para a escrivaninha, a pena e o tinteiro. Ao lado, o velho castiçal de zinco, era o suporte para a vela que iluminava sua escrita. O recosto da cadeira era o apoio para espreguiçá-lo com suas costas e braços. No sorriso discreto, a nítida emersão de uma nova seqüência da narrativa que descrevia. A alvorada, quase sempre, o surpreendia, com a os braços cruzados sobre a mesa, servindo para recostar a face sobre eles. Mesmo assim, eram noites melhores dormidas em sua cadeira do que em sua cama.

Com o tempo ele passou a ir sozinho até a província, para fazer as compras necessárias. Era uma maneira de poder poupar o pai, que já sentia o peso dos anos que vivera, apesar da solidão das viagens. As jornadas não eram mais a mesmas de quando iam juntos pelas velhas e conhecidas estradas. Com ele, enquanto seguiam sentados na carroça trepidante, nem era possível perceber a distância da propriedade até as vendas. Eram ótimas conversas, muitos risos e muitas lembranças que o pai trazia a tona, falando da sua própria infância e da sua juventude. De como havia conhecido sua mãe, o namoro e a luta para adquirirem a propriedade. O primeiro plantio e a primeira colheita. As secas e as tormentas. Tudo era falado e repetido com a mesma fidelidade dos fatos, como se fosse a primeira vez. Mas havia uma diferença em um único ponto. Agora, o velho falava de outra maneira, sobre o fato de nunca ter tido filhos. Ele agora tinha um filho. A coisa mais importante que poderia ter acontecido na vida dele e de sua querida esposa e nada poderia ser mais perfeito do que isso. Tudo que os dois puderam ensinar para ele foi ensinado. Cada cantiga de ninar, cada cuidado que deveria tomar e até mesmo, as pequenas orações que agradeciam pela vida de todos de uma casa, que sempre tiveram a certeza, de ter sido abençoada.

Estimava-se que ele já se aproximava de seus dezesseis anos. Seu aniversário passou a ser comemorado no mesmo mês que ele surgiu no vilarejo, o mês de agosto. Este era o mês que todos temiam, mas ninguém sabia por que. Os supersticiosos acreditavam que este era o mês dos cães loucos, dos demônios e das bruxas. O mês do “desgosto” era carregado de ventos que parecem gritar ao invés de soprar, capazes de deformar a face daqueles que abrissem a porta ou uma janela de suas casas, em horário indevido. As bruxas tinham um poder maior neste período e as almas perambulavam soltas pelas ruas, saindo do mundo dos mortos para aterrorizar os vivos. Havia aqueles que se benziam durante todo o dia 24. Acreditavam que nesse dia, o próprio demônio estava solto e se disfarçava para conversar com os humanos. Ninguém tinha coragem de falar com um estranho neste dia em especial, mesmo sabendo que era o dia do apóstolo Bartolomeu. Mas parecia que, o pouco falado apóstolo bíblico, exercia função quase que nenhuma, na fé dos provincianos. Para aumentar ainda mais o temor das pessoas, as cadelas entravam no cio e para cada uma delas, que caminhava pelos becos, havia dúzias de cães que ofegavam e babavam a espera da oportunidade da cópula. Do outro lado do oceano, as mulheres nunca se casavam em agosto, pois era nessa época que os navios deixavam os portos à procura de novas terras e isso deixava, as amáveis donzelas, com o temor de não terem uma lua-de-mel ou de ficarem viúvas, nos costumeiros naufrágios do oitavo mês do ano.

Ele sempre ouvia as superstições contadas pelo seu pai e relatos de fatos cada vez mais surpreendentes e outros hilários. Mas ele sabia que agosto, assim foi batizado pelos romanos em homenagem a Augusto, devido aos seus suscetíveis atos de sucesso neste mesmo mês, como a conquista do Egito. Mesmo com tamanhos feitos, a vaidade também imperava nos homens naquela época, por isso, exigiu que seu mês também possuísse 31 dias, assim como o mês de julho, seu antecessor, oferecido a Julio Cesar. Sabia que no dia 24, São Bartolomeu, havia sido martirizado por ter promovido, em um lugar chamado Armênia, várias conversões ao cristianismo e provocou a ira de seus sacerdotes. Eles determinaram sua execução, lhe arrancando a pele e depois o decapitando, em agosto de 51 d.C. Depois de morto, ainda coube a Bartolomeu, o trabalho de expulsar o demônio para as profundezas do Tártaro e abandonar o mundo terrestre. Mas para o flagelado apóstolo, houve mais um infortúnio, o de ter seu nome conhecido pelo massacre ordenado por uma mulher. Em agosto de 1572, Catarina de Médici, ordenou uma matança que praticamente dizimou os huguenotes, no massacre da noite de São Bartolomeu. A loucura dos cães, além do cio, era pelo fato do clima do mês de agosto, favorecer a proliferação do vírus da raiva entre eles e que o gigantesco dragão, que sobrevoava os céus e cuspia fogo durante todo este mês, nada mais era do que a constelação de Leo, que tomava seu espaço e se destacava entre as outras estrelas.

Enquanto sorria ao relembrar e pensar sobre o misticismo das pessoas, a estrada de cascalho ia sendo vencida. Seu silêncio, só era quebrado pelos cascos do animal nela atrelado, pelas rodas de madeira e o batido de suas tábuas, algumas mal fixadas pelos seus velhos pregos. Muitas vezes tentou entender Deus. Por mais que sempre ouvisse as pessoas falando, justificando seus atos, pedindo graças ou perdão a Ele, não entendia muito bem como era possível essa relação entre os homens e algo tão divino. Mas mesmo assim, mergulhado em tantas dúvidas, fazia rotineiramente, a pronúncia das palavras de evocação das graças que sua mãe havia lhe ensinado desde pequeno, sem saber explicar se estava fazendo certo, ou se algumas delas já haviam sido atendidas. Ele apenas fazia e deixava sua mãe feliz com isso, mas sua própria fé era questionável. Nunca, nenhuma de suas orações ou rezas, nem as de sua mãe, haviam afastado seus sonhos aterrorizantes e as sombras que corriam em suas paredes.

Logo após a floresta, de onde ele surgiu quando criança, ficava o velho cemitério. A estrada até a entrada da província era revestida de pedras. As mesmas das ruas da cidade incluindo suas deformações. Parte do seu muro era de grandes pedras e a parte superior de tortuosas barras de ferro pontiagudas. Eram como velhas e enferrujadas lanças que apontavam para o céu. Sempre que chegava nesta parte da estrada ele se calava. Sua pele ficava pálida e sua respiração cada vez mais ofegante à medida que ia se aproximando de seus portões arqueados. Seu pai percebia o aparente temor que ele sentia nesse trecho da viagem e procurava sempre arrumar logo um assunto para tentar amenizar o pavor do filho. Quando viajava com o pai, ele evitava olhar para sua direção, mas desta vez, mesmo estando sozinho, decidiu vencer seu temor e olhar pela primeira vez para além dos portões. Seus olhos então puderam enxergar um cenário mórbido. Cruzes e túmulos brotavam do chão. A velha capela era destelhada e não aparentava receber visitantes há bastante tempo, enquanto estátuas mantinham-se em pé, sobre diferentes jazigos. Definitivamente, o que viu, não o agradou. Porém, algo havia acontecido. Ele conseguiu olhar de frente para o que tanto temia. Continuava aterrorizado com o que viu, mas não tanto quanto antes e sorriu de sua própria vitória.

Seu destino estava se aproximando e os telhados da cidade já poderiam ser vistos logo após a descida na estrada. De longe, era possível ver a torre da grande igreja, construída no ponto mais alto da província e seu grande sino, que fazia suas badaladas serem ouvidas em sua casa, cerca de doze quilômetros de lá. Mesmo diante de toda religiosidade dos pais, eles nunca haviam ido até a igreja. Suas preces eram feitas coletivamente, sentados à mesa ou em uma sala, uma espécie de capela, que sua mãe enfeitava com flores e folhagens periodicamente, quando acendia algumas velas.

Agora seus instintos eram de curiosidade. Tentava adivinhar ou imaginar o tema do livro, que com certeza, ganharia do marinheiro. Sua ansiedade podia facilmente ser confundida, com agonia. Seu plano era de fazer as compras o mais rápido que pudesse e imediatamente ir para o porto, rever seu amigo viajante. As ruas não estavam tão cheias como das outras vezes. As pessoas evitavam sair de casa durante esses trinta e um dias. Os armazéns passavam a fechar mais cedo, evitando adentrar em qualquer pedaço da noite. Talvez nem encontrasse todas as coisas que estavam na lista que seu pai lhe dera.

Apenas algumas coisas não foram encontradas de todas as listadas. Seus afazeres estavam concluídos. Algumas pessoas conhecidas de seu pai se atreveram a perguntar sobre o velho e por qual motivo, como não era de costume, o garoto estava sozinho naquele dia. Ele respondia, disfarçando sua pressa de ir ao porto, que o pai estava bem, mas que havia preferido ficar em casa, confiando a ele e sua responsabilidade, as compras daquele mês.

O porto não ficava tão longe assim dos armazéns. Eram apenas algumas poucas ruas tortuosas a serem percorridas e já era possível se ouvir o barulho dos viajantes e de outros comerciantes próximos à praia. Mas como toda a cidade, o porto também estava quase sem ninguém a perambular. Apenas algumas bancas e tendas estavam armadas. O que havia para ser negociado, não agradava tanto assim aos compradores. Os produtos já não eram tão frescos assim e não havia tantas novidades. Os alimentos e frutos do mar, não exalavam um odor agradável, mesmo que fosse possível. Todos os pescadores temiam enfrentar os ventos e o mar para trazerem peixes, mariscos e caranguejos, para serem vendidos. As cabras, porcos e galinhas, estavam magros. A estiagem havia sido intensa dessa vez. O cenário era incomum neste lugar acostumado com centenas de pessoas ofertando, aos gritos, seus melhores preços e produtos. Mas ele tinha um lugar definido para ir. Ele queria encontrar o marinheiro que tinha seu lugar reservado pouco além da metade do píer. Enquanto percorria a distância, até o costumeiro local, os olhos dos poucos comerciantes se voltavam a ele com uma fixação pesarosa. Por mais que não entendesse o motivo desses olhares, aquilo o incomodava e sentia sua garganta sendo esmagada por mãos invisíveis. Seus batimentos aumentavam na mesma proporção da velocidade de seus passos. Sua corrida só foi interrompida, por alguém que lhe segurou forte por um dos braços e pronunciou algo que poderia ser entendido como um lamento ou pesar. Todos sabiam da amizade entre o menino e o marinheiro. Sempre os viam conversando por longos minutos e admiravam a coragem do garotinho por ficar tanto tempo ao lado de uma pessoa de tal aparência. Fazendo todo o contrário, de muitos homens que o temiam, apenas de vê-lo calado ao longe.

Algo havia acontecido. O marinheiro não estava no seu local costumeiro. Todos pararam e contemplaram o vazio daquele momento, expressado na face de um jovem, que parecia ter perdido algo de importante. Alguém comentou sobre os destroços de uma caravela que foram avistados há alguns quilômetros da costa. Deram certeza que as bandeiras eram as mesmas usadas pelo seu amigo. Algumas coisas foram recuperadas por outros navegantes e uma delas, assim que puxada a bordo, remeteu de imediato, em alto mar, o pensamento de outros marujos ao garoto que viam no porto. Era um velho baú trancado. Pesado e resistente, feito de madeira e ferro com um grande cadeado que mantinha o seu conteúdo em segredo. Quando aberto e revelado seu interior, a tripulação teve um único pensamento e uma única certeza. Aqueles livros eram para uma pessoa em especial. Toda uma coleção, de vários lugares e terras, só poderia ser para uma pessoa em especial. Sabiam que não se tratava de ouro, jóias ou prata, mas sabiam que aquilo seria um verdadeiro tesouro para aquele menino. As outras coisas recuperadas foram divididas entre a tripulação. Alguns se recusaram a receber qualquer coisa e colocaram-se de fora da partilha fúnebre. Alegavam que não queriam ter algo guardado que pudesse aprisionar o espírito de um morto. Nenhum corpo ou sinal de sobreviventes foi visto. Todos, aparentemente, estavam mortos.

O garoto abriu e olhou o interior do velho baú. Realmente estava abarrotado de livros que nunca havia visto. Levantou sua cabeça e olhou a linha do mar e o seu horizonte. Confortado com apertos em seus ombros, silenciosamente, alguns homens providenciaram carregar o grande baú para a carroça que ele conduzia. Passos lentos o levaram para fora do cais e uma estranha sensação tomava conta de seu peito. Era seu primeiro contato com a morte e era hora de voltar para casa e levar as coisas que havia ido buscar. Na carroça, um item não esperado. O baú do marinheiro causava um esforço extra ao animal que dava movimento a ela. Para aliviar o peso, decidiu descer e caminhar ao lado do cavalo, segurando suas rédeas. O silêncio da estrada parecia maior, ou eram as lembranças do amigo, que não permitiam que ele ouvisse mais nada ao seu redor. Na tentativa de buscar uma explicação do que realmente poderia ter acontecido, lembrou-se das lendas sobre o mês de agosto. Apesar do tempo que o conheceu ele havia prestado atenção apenas em suas aventuras, mas jamais havia perguntado se ele tinha uma família. Sentiu-se mal por isso. Não sabia dizer se havia sido descuidado ou egoísta de não ter perguntado. Agora, ele sequer sabia se o amigo havia deixado uma viúva ou filhos. Nem mesmo de onde ele era. Sua vida continuou sendo um mistério, assim como a sua morte.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

FANTASMAS DE AGOSTO II



FANTASMAS DE AGOSTO  
Capítulo II 
Ele
Souza Filho


Mais uma manhã em que ele não havia fechado os olhos e o sol nascia para seu cotidiano. Apesar de ainda não saber o que vivera na noite anterior, seus pensamentos insistiam em buscar os detalhes do que teria sido real, ou apenas mais um de seus estranhos sonhos. Ele não gostava muito de sonhos e quase não os tinha. Seus problemas com as noites, quase todas observando sombras que caminhavam pelas paredes, o privavam de receber esse privilégio e deixavam seus dias cada vez mais cansados. A alvorada há muito, deixou de ter o mesmo encanto que ofuscava as pessoas comuns. Assim como a chegada das noites enluaradas que sempre encantavam os amantes e os poetas. Ele não conseguia sentir nada disso, por mais que já houvesse lido várias páginas de seus livros, que faziam essas narrativas.

Trazia no seu semblante uma expressão perdida. Seus olhos, quase claros, sempre focavam o vago de uma distância aparentemente incalculável.  Era um olhar triste e vazio, onde não havia mais sinais de esperança, mesmo que qualquer um dos seus desejos lhe trouxesse as mais belas fantasias de felicidade. Era um homem de boa estatura e ombros largos, que tentava passar despercebido em qualquer lugar que perambulasse. Discretos acenos de mãos e sorrisos quase imperceptíveis eram sinalizados em retribuição aos cumprimentos de qualquer um que se lembrava de seu nome e que se propunham a desejá-lo um bom período. Seus passos, assim como a grande maioria dos seus dias, eram silenciosos. Poucas vezes, sua voz havia sido ouvida publicamente, em mais de duas ou três frases seguidas.

Apesar do certo receio que mantinha em se aproximar das pessoas, os moradores da pequena província, mantinham sobre ele uma visão serena mesmo sem saber muito sobre ele. Sua idade era também, um mistério. Quando ele emergiu, simplesmente do nada no pequeno vilarejo, aparentava ter cerca de cinco anos de idade. Ninguém sabe ao certo de onde ele veio e como havia chegado. Foi encontrado com os pés descalços, faminto e imundo. Arranhões que foram feitos pelos espinhos da floresta, tomavam conta de seu corpo, disputando espaço em sua pele, com as pequenas sanguessugas das áreas alagadiças que provavelmente tivera atravessado. Sua aparição causou comoção e medo a todos os moradores do tímido local. Quase que de imediato foi acolhido por um velho casal de agricultores. Apesar da alegria de ter a tão inesperada presença de uma criança no vilarejo, muitas pessoas acreditavam que aquilo era um sinal de alguma maldição. Que talvez, o pequeno garoto, não fosse um sinal de bons presságios.

Ele se tornou o único filho de um casal estéril. Isso fez com que ele ganhasse o amor e atenção que seus pais puderam lhe dar. Mas mesmo assim, era uma criança de hábitos estranhos. O menino demonstrava uma grande inteligência e facilidade de aprendizado. Sempre muito atencioso com os pais, devolvia na mesma intensidade o amor que recebia. Sempre soube que sua origem era misteriosa, uma vez que seus amados pais, nunca lhes esconderam isso. Nem mesmo ele se lembrava de qualquer coisa que teria vivido até o momento em que foi encontrado. Nas poucas vezes que falava sobre o tempo que passou perdido na floresta, relembrava apenas a fome, o frio e o medo que sentiu. As visitas à pequena propriedade, após sua chegada, eram intensificadas. Todos queriam ver o pequeno misterioso. Não raramente, sua mãe se recolhia para, discretamente, enxugar as lágrimas que eram causadas pelos comentários maldosos e maliciosos de outras mulheres que puderam ser mães. Era delas, que vinham os conselhos sobre os riscos que a tal criança poderia representar, devido sua origem misteriosa. 

Com o passar dos anos o menino crescia na mesma proporção que diminuía a necessidade das pessoas de saberem sua história. Nunca se soube então de onde ele veio e quem eram seus pais verdadeiros. O assunto já não era mais abordado sob as velas da cidade e aos poucos, passou a ser visto como apenas um jovem normal nascido no vilarejo. Nada o diferia de nenhum outro da mesma idade em sua adolescência, a não ser, pelos constantes pesadelos que tinha e pelos modos discretos de se portar. Modos quase que atormentados silenciosamente. Lembravam apenas, que quando pequeno, fugia e se escondia como um pequeno animal selvagem, quando via algum visitante adentrando na propriedade dos pais.

O pai era um homem muito simples. Desejava ter sido letrado na infância para saber o que diziam os livros que sempre colecionou. Eram escritos antigos e muitos tinham capas muito bem trabalhadas em arrebites e couro. Outros já haviam perdido algumas de suas páginas e desbotado suas letras. Com a chegada do filho, viu a esperança de lhe oferecer o conhecimento que para ele era apenas uma curiosidade. Por horas o velho sentava na velha cadeira de balanço e contemplava, diante a lareira, a enorme estante de livros que jamais soube como ler. Todos os volumes foram recolhidos quando seus antigos donos os descartavam.  Mesmo sendo oculto ao seu entendimento o conteúdo de todos eles, o velho os mantinham sempre limpos e não media esforços para aplainar suas páginas, deixando muitos deles, sem uma dobradura sequer.

Com algum dinheiro que sobrava, após retirar as economias que fazia para o futuro do filho, o velho pagava mestres letrados, que periodicamente passavam pelo vilarejo, vindos da província, para ensinar ao menino a arte da leitura de todos os escritos. Em pouco tempo e com pequenos números de lições, pode saborear os mistérios que tantos símbolos manuscritos revelavam naquelas páginas amareladas, pela voz infantil do pequeno, que já corria os dedos e os olhos, nas linhas das páginas por volta dos seus dez anos de idade. Mesmo com a alegria que existia entre os pais e ele, os sorrisos do garoto, que eram escassos, tomavam outra proporção com a chegada de seus professores. Era por apenas algumas horas por mês, que diante deles, mostrava toda sua compenetração. Os dedos de unhas sujas, ainda se atrapalhavam para firmarem a grande pena de tinteiro, na tentativa de reproduzir os símbolos e formar as primeiras palavras.

Diante daquela visão, enquanto o filho estudava, o pai recostava-se no tronco da velha árvore, há alguns metros da varanda da casa, com o piso talhado em madeira rangente, e admirava o empenho do misterioso filho. Ali, embaixo da gigantesca sombra, imaginava como seria a seqüência da estória do livro que escolheu para que ele narrasse todas as noites diante da lareira. Os fatos tomavam sentindo nas palavras soletradas do menino e agora as ilustrações passavam a fazer sentido sobre o motivo de estarem ali. Antes o velho folheava todos os livros à procura destas ilustrações e muitas vezes, não sabia o que elas poderiam querer dizer. O velho apenas imaginava. Agora tudo fazia sentido.

O gosto pelas obras parecia ter sido transmitido a ele de uma forma quase congênita pelo pai. As noites eram sempre assim. O velho sentado em sua fiel cadeira de balanço e o filho num pequeno caixote, com o assento próximo ao chão, apoiando os livros sobre seus joelhos e aproximando o rosto das páginas para a difícil leitura dos capítulos, como que buscando um maior aproveitamento da luz trêmula e cheia de sombras que a madeira incandescente das chamas da lareira propiciava. Enquanto isso, a velha mãe, traçava pontos seguros nos remendos de alguns trapos de roupas do marido e do filho. Sempre atenta ao que era lido, permitia que uma lágrima ou outra, lhe saltasse dos olhos ao vê-lo crescendo e saciando a vontade do pai de conhecer todos os mistérios daquelas encadernações. Por vezes, ela mesma acreditava que alguns trechos haviam sido escritos por alguém que os observava, devido a tamanhas semelhanças com suas vidas.

Com o passar do tempo, as visitas dos mestres já não eram mais freqüentes. A sua leitura era esplendorosa e passou a ser conhecido pela sua caligrafia. A literatura passou a ceder espaço para outras ciências como a matemática e história. Mas era nos livros que ele se encontrava. Tantas coisas que aconteciam em mundos tão diferentes do seu e em lugares, que nem sempre, eram tão distantes de lá. Segundo os seus professores, seu desempenho superava o de muitos, talvez mais afortunados, alunos da província. Ele não podia ver, mas passou a imaginar o mundo com seus próprios olhos. Sua imaginação sobre como deveriam ser as coisas, emocionavam os pais em cada nova poesia e ode que escrevia. Seu tinteiro secava na mesma velocidade que colecionava folhas de tudo que escrevera. Naqueles dias, o pai se lembrava das vezes, em que carinhosamente, pegava nos braços o pequeno de seu caixote, quando ele não mais resistia ao sono e deixava a cabeça tombar em direção aos seus ombros, para colocá-lo na sua cama de espesso colchão de palha.

Ele, por poucas vezes, foi até a província. As visitas até as edificações feitas no contorno de ruas estreitas e ladrilhadas de maneira disforme, eram raras. Sempre essas visitas eram em busca do que não podiam produzir na propriedade e nos mercados buscavam por sal, látex, pelica, ferramentas, tinta para seu tinteiro e tecidos que se transformavam em vestes simples, porém, caprichadas nas mãos de sua mãe.

A vida na província era diferente. Pessoas andavam de maneira mais apressada e usavam roupas mais limpas que as suas. Haviam homens que expunham feridas no corpo, sentados no calçamento das ruas, sempre erguendo as mãos na direção dos apressados, na esperança de ganharem algo, mediante a sua miséria. As crianças não tinham terra sob as unhas e brincavam de correr umas atrás das outras pelas vielas. Quando se comparava a estas crianças, ele se sentia diferente. Ele não tinha a companhia de outros para correr e brincar de qualquer uma daquelas coisas que eles brincavam. Ele realmente era diferente, mas não pelas suas unhas ou roupas, muito menos por não ter com quem brincar, mas sim, por seu conhecimento precoce e pelo manuseio perfeito da pena de escrever. Realmente ele era superior. Enquanto elas eram hipnotizadas pelos doces e pirulitos das lojas, ele traçava um caminho a um lugar totalmente diferente. Em meio a aves e outros animais que eram amontoados em gaiolas de madeira e cercados, que tomavam conta do píer do cais, havia um mercador de aparência amedrontadora. Era com este homem que ele conversava por longos períodos, enquanto o pai fazia as compras e revia alguns conhecidos. O marinheiro que conhecia grande parte da costa envolvia-se em narrativas feitas com orgulho ao olhar atento do garoto que parecia parar no tempo, apenas ouvindo-o. Talvez como prêmio, a cada nova viagem e depois de uma nova aventura, o velho marinheiro lhe entregava um presente. Com um enorme brilho nos olhos e um sorriso igualmente reluzente, o menino acabava de receber mais um livro. 

Enquanto o garoto se afastava, o marinheiro olhava seu trote em direção ao pai. A jovialidade era uma coisa que não se lembrava em sua vida. A cada visita do menino, levava a vontade de retornar de mais uma viagem e com um novo presente que ele não possuía. Algo que pudesse entusiasmá-lo a voltar até o porto, para poderem ficar conversando por mais algum tempo a cada novo regresso. Sentia que a presença do menino lhe fazia bem. Sua inteligência era de longe maior que a de outros marinheiros que conhecia em conversas etílicas das tabernas por toda parte por onde andava.  Era um homem solitário. Pouco também se sabia sobre ele, apesar de trazer iguarias dos lugares mais exóticos e tecidos finos que vestiam a realeza da província ao preço de pesadas peças de ouro e prata. Ninguém se atrevia a perguntar quais eram suas fontes ou de onde trazia tamanhas raridades. As negociações eram duras e nunca alterava o preço de seus produtos. Para se ter o que ele vendia, as ofertas teriam que ser muito boas. Mas para o menino, o preço era apenas a sua atenção e companhia. Ele era a única pessoa que não se entediava com suas estórias e nunca não o apressava nos detalhes. Ele era seu pequeno amigo e a única pessoa, que por motivos desconhecidos, o marinheiro confiava.

O pai compartilhava com o filho a alegria do presente e mal via à hora do anoitecer para darem inicio a uma nova leitura. Em uma espécie de respeito velado, o menino não lia nenhum trecho da nova obra, sem a presença do pai acomodado em sua costumeira cadeira e ele sentando em um banco, um pouco maior que o velho caixote.

Apesar das longas leituras, o sono não era suficiente para o seu descanso. As noites eram quase todas em claro. Pela madrugada, vultos continuavam sendo vistos esgueirando-se pelas paredes. A constante sensação de estar sendo observado não dava trégua. As sombras não anunciavam nenhum tipo de epílogo, mas sim um horrível Gênesis dos temores noturnos que assolavam seu inconsciente. O medo era companhia certa na infância, mas na adolescência, em meio a tantos temores, quando vencido pela necessidade de seu corpo, logo era acordado pelos horrores de seus pesadelos. Eram sonhos confusos e que não diziam absolutamente nada.  Não entendia os motivos de tais coisas que mais se assemelhavam a visões, prelúdios, avisos... Mas de todas as perturbações noturnas que lhe tiravam o sono, apenas uma realmente, ele jamais quis esquecer.

Uma noite inteira no silêncio. Era como se estivesse flutuando sobre uma larga cama, onde podia ver a si próprio e uma misteriosa mulher dormindo abraçados. Quando não mais estava flutuando, via-se sentando na mesma cama, velando pelo sono dos dois amantes que poucos movimentos faziam. Era como uma viagem no tempo. O homem que dormia e que abraçava sua companheira era ele mesmo. Mas com outro corpo. Com outro rosto. Ele não era mais tão jovem. A mulher ele nunca soube quem realmente fosse. Por não saber se ela pudesse ser real, procurou gravar em sua memória, cada detalhe de seu corpo e seus cabelos.  Seu corpo era desenhado como se tivesse sido contornado pelos mais especiais pincéis existentes no mundo e sua pele era lisa. Apenas um sinal adornava aquela, aparentemente macia pele. Um desenho, talvez uma tatuagem. Em sua transcendental viagem, observava sua respiração silenciosa e a bela expressão de seu rosto, enquanto seu espírito não retornava para trazer a mulher de volta à vida. Seus raros movimentos eram suaves e lentos. Era quase impossível, não sentir a paz, que mesmo no mais profundo sono, aquela mulher propagava.
 
Nas manhãs que sucediam, várias horas do seu dia, eram remetidas às lembranças das feições da personagem de sua imaginação. Seus pensamentos se voltavam a ela a qualquer momento. Sem serem invocados, demonstravam vontade própria, e quando mergulhado neles, nada que fizesse poderia retirá-lo das profundezas de suas lembranças. Ao mesmo tempo em que intrigavam estas lembranças, o motivavam a desenvolver um estado único de paciência e esperança, de um dia saber se ela era realmente apenas um delírio ou não.

sábado, 27 de agosto de 2011

FANTASMAS DE AGOSTO I

FANTASMAS DE AGOSTO

Capítulo I

A aparição


Souza Filho

As ruas estavam desertas e tudo parecia tranqüilo, enquanto os ventos brandos sopravam a madrugada seca daquela noite. Eles davam uma coloração avermelhada ao céu quando erguiam a poeira solta do chão, para mais perto da pouca luz que a lua minguante oferecia. Pelas ruas ninguém mais ousava trafegar. Talvez, apenas almas perdidas de seres confusos insistiam em buscar algo, que sequer, sabiam onde encontrar. Em meio ao mórbido cenário, estes eram os únicos seres que habitavam aquele vazio civilizado e escondido pelas marcas dos devaneios próprios.

A madrugada abria-se novamente e poucas palavras eram ditas. Eles estavam ali. Nervosos e calados, felizes e apavorados. Os seus olhares não se encontravam apesar das supostas possibilidades. A noite havia sido longa e interessante. Talvez tivesse sido como uma válvula de escape para tantas perguntas sem respostas que tinham, mas que nenhum dos dois se atreveu a comentar. Jamais minutos como aqueles foram tão longos e vazios.

Era apenas uma simples madrugada de agosto que nada mais oferecia por suas certezas, a não ser as suas improbabilidades. Ela estava diante de seus olhos. Dessa vez não havia como duvidar. Aquele fantasma ressurgiu do nada, sem ser calculado. Um gosto estranho tomava conta de sua boca. A respiração era ofegante e, mesmo assim, tentava demonstrar uma tranqüilidade que não lhe era mais de domínio, assim como a sua calma falsificada. Este era o momento e em momentos assim, improváveis, o que era para ser uma simples despedida tornou-se a chegada.


Esta era a chegada daquilo que se fugiu por longos anos. Seus pensamentos eram tomados pelo medo e fascínio. Como seria possível ele ter sido encontrado? Como ela o achou? E principalmente, por quê? Olhos que antes pouco se firmaram, agora ardiam em uma febre umedecedora. O único movimento que se propunham a fazer era quando buscavam avistar algo que parecia estar vindo de longe e se perdia em meio à morbidez da escuridão. Algo como anjos noturnos que surgem quando não são esperados.

Nas sombras noturnas, tornam-se sem foco. Seres difíceis de distinguir e tão perdidos quanto aqueles que se atreveram a perambular pela noite. Guardiões de portas que talvez, jamais deveriam ter sido abertas.

Ao se deslocar, não era possível saber se aquele fantasma caminhava ou pairava sobre o chão. Os movimentos eram delicados. Seu sorriso era doce e confortante. Um sorriso que se formava em contornos de lábios finos que tinham o dom de provocar estímulos desaconselháveis para aquele momento. Os olhos negros traziam o brilho de uma crueldade, que ao mesmo tempo confortava e cortava como açoites. Era quase que possível sentir a pele se dilacerando com o fio daquele olhar. As coisas há muito, já estavam fora de controle, assim como os ossos que insistiam em suas trepidações.

Aquilo que não é planejado pode se tornar perigoso demais para ser entendido. Os instintos alertavam, mas a curiosidade e o medo, que brotavam de sentimentos remotos, instigavam a uma procura infundada de se ver o que se esconde. Os portões daquele cemitério, guardados pelos seres disformes, foram abertos. Não era possível imaginar o que lhes esperava. E então, eles não imaginaram. Em meio ao silêncio tudo soava como estranho. Os passos, também eram curtos e silenciosos, sobre o velho calçamento do cemitério. Apenas as secas folhas zuniam ao soprar do vento e assumiam formas sombrias e tenebrosas pelo caminho quieto e escuro que tomavam. As grades também se abriram, e a quem buscasse, ofereciam a chance de desbravar algo ainda não conhecido. Aquela mulher apresentava uma cor deslumbrante, mas também transparente. Na face, a coloração escarlate dos impulsos reprimidos, agora disfarçados de uma expressão inocentemente divina. Quando ela entrou, parecia uma criança travessa, prestes a cometer mais uma de suas traquinagens. Suas atitudes eram espontâneas e curiosas, porém, o aparente conforto que sentia em um lugar até então, tido como desconhecido, era uma coisa incomum. Aquilo era algo que parecia que os dois já haviam vivido em outros momentos que nunca aconteceram. Apenas um déjà-vu.

Eles foram assim durante algum tempo. Mas jamais os dois estiveram ali juntos e jamais imaginaram isso em suas vidas. Ele conhecia bem o local, pelo grande número de vezes que se trancou em sua frieza, mas ela não. Ela, jamais havia pisado neste ambiente em nenhuma de suas formas. Mas ela se sentia a vontade e ele não.

A realização do que não se planeja provoca a sequidão da garganta, que jamais se atreveria a pronunciar uma única pergunta. Por isso mesmo, nenhum deles perguntava nada. A única coisa provável que existia ali era a completa falta da razão. Nada que fosse feito, nada que fosse pensado, nada do que fora dito, teria sentido algum naquele momento. Lá fora, pelas grades e portas aberta, era possível ver que a brisa ainda corria e as folhas das velhas arvores ainda se mexiam. Mas ali dentro, era possível sentir o corpo queimar e um ardor consumi-lo como se viesse de dentro para fora, causando sensações estranhas e envolventes.

Aquilo não era certo, mas também, não sabiam se era errado. Não podiam estar ali, sozinhos naquele lugar. Jamais imaginavam o perigo que há quando se desperta algo que adormecera silenciosamente como o sono infantil de pequenos anjos doloridos em suas cólicas. Era como a violação de sepulcros lacrados que guardavam coisas, não mortas, mas escondidas em segredos perturbadores e sufocados, que se debateram ferozmente antes de serem trancafiadas e amordaçadas. Esquecidas.

Cada um dos sinais que surgiam eram cada vez mais difíceis de serem decifrados. Não eram comuns e jamais haviam sido vistos por eles. Aquele fantasma parecia sentir o medo que emanava do que a observava. Seus gestos eram calculados, e movimentava com sutileza em cada passo que dava. Em cada canto os sinais emanavam como codificações dos mesmos gestos inesperados. Desde um simples olhar ao movimento dos lábios. Lábios que provocavam. Dos braços que por receio se cruzavam, até as mãos que tremiam insistentemente. A mente não conseguia mais enviar ao corpo comandos de obediência e tudo que se passava aparentava serem atitudes cada vez mais desconexas. A única coisa que ele não podia fazer era se entregar. Mas ele se entregou.

Aquele espírito venceu o seu espírito sobre a carne. O calor que emanava causava medo aos seres sombrios e esquecidos que os observavam. O sopro de vida, que surgiu neste instante, de tão intenso que era, causava inveja a esses seres, que haviam esquecido como era boa a simples sensação de poder se sentir vivo. Algo que até mesmo para criaturas aterrorizadas, era pavoroso. As almas que por ali passavam, não entendiam o que havia se atrevido a perturbar seu descanso e recuavam amedrontadas à mesma escuridão de onde saíram.

Apesar do ambiente obscuro, o momento tornou-se iluminado, com marcas sombrias e incandescentes. Seu corpo era quente e macio, suas formas envolventes e a pele exalavam um delicioso cheiro de flores frescas. Um cheiro que somente existia nas primeiras manhãs primaveris dos bosques, que haviam bem longe daquele lugar. Mas eram como sonhos em sua mente confusa. A forragem do sepulcro era macia e sua forragem abafava os gemidos que vinham de seu interior. Por algumas vezes, as unhas que vinham lhe arrancava pedaços que se amontoavam nos cantos da pequena sala. Os cabelos se tornaram úmidos e emaranhados e sua beleza era encoberta. Hora pelos mesmos cabelos. Hora pelas expressões que teimavam em modificar seu rosto. Não era mais possível ver seus olhos que se misturavam com a cor da noite em meio aos segredos esquecidos em um velho baú de lembranças. O calor agora era frio e o frio era quente.

Ali tudo que se respirava era perigoso. O ar não tinha mais o peso costumeiro. Era algo mais carregado, repleto de novos odores que surgiam a cada movimento. Estes movimentos pareciam seguir uma sincronia não ensaiada, mas apenas seguiam seus instintos que acabaram por tomar vida própria. Ao longe nada se ouvia claramente, mas de perto, eram como palavras mal pronunciadas por bocas que não mais se separavam. Eram como gritos perdidos e satisfeitos. Insanos. Os tremores, não eram mais por medo, mas sim, pela loucura. Hora as unhas continuavam a arrancar a forragem, hora lhe arrancavam a carne. A dor que lhe causava se perdia em meio à vontade de seguir. Calafrios eram sensações comuns. O ar, que antes era pesado, agora faltava em seus pulmões. Os sentidos estavam aguçados, mas a única coisa que seus músculos faziam, eram se contorcer. Eles não fugiram. Também, nenhum dos dois queria estar sem o outro. Tornaram-se metades. Eram seus próprios algozes e redentores. Não permaneciam quietos, mas reféns de sua própria loucura. Os sentidos já não correspondiam à lógica que se tornou ausente.

Em meio ao que não podiam enxergar, as mãos tateavam tudo o que podiam alcançar. Toques objetivos, ainda que trêmulos, mas seguros em seu desespero de conhecer a cada centímetro percorrido. Eles queriam saber cada vez mais de seus mistérios e desejos. Dos seus e do outro. Os sinais já não eram os mesmos. Eles mudavam a cada nova loucura que era emanada. Não eram mais conhecidos. A cada instante, um mistério era solucionado ou pergunta respondida, mas novos mistérios e perguntas surgiam, talvez, sem respostas.

Não existia nenhuma certeza naqueles corpos ou em seus sentidos. Mas o corpo que o espírito havia empossado, era perfeito. Sua silhueta era definida e traiçoeira. Antes parecia não ter vida. Eram como o transporte de suas dores, medos e pesadelos. Nos corações ressequidos pela ação do tempo, para um deles, o efeito era latente. Tudo o que estava presenciando, era a materialização de tudo que havia imaginado outrora, em uma vida que não existia. Que não mais pertencia a ele. Seus batimentos eram descompassados, acelerados e por vezes espaçados demais pelos seus temores. As suas lembranças e também as suas dores. A cobertura dos corpos tornou-se rubra. Talvez pelo calor, talvez pelo toque, talvez pelo fluxo. O sangue lhes irrigava os caminhos e brotava das feridas que, desta vez, poderiam demorar mais que o normal para cicatrizarem novamente. Elas foram talhadas primeiramente, com ranhuras que nunca tiveram resposta. Com as dúvidas que cada um deles insistia em guardar confiaram tudo a uma espessa e pesada armadura frágil.

Algo realmente havia sido despertado. Seus sons eram como murmúrios que substituíam as palavras, que teimavam em não sair. O que era proferido nada mais passava de loucos movimentos de lábios que eram mordidos quando tentavam pedir por socorro e deixava apenas os profundos suspiros falarem pelo momento. Algo despertava das profundezas mais remotas. Mas apesar de serem como cadáveres decompostos, não tinham os rostos envoltos na dor ou no desespero, nem deliberavam o fétido cheiro de sua carne apodrecida.

Os minutos voltaram a ser intermináveis e intensos. Os corpos assemelhavam-se a espectros entrelaçados em uma espécie única de manto que apenas mudava freneticamente a forma e posição. Seguiam um sincronismo como se já estivessem acostumados àquilo. O equilíbrio, já comprometido, não conseguia sustentar a estabilidade dos seres que se perdiam e se encontravam. Que se buscavam. Que se queriam.

Era difícil compreender, que aqueles rostos, antes seguros e amargurados, buscavam uma brecha para dar espaço a um pequeno sorriso de satisfação, prazer ou sarcasmo. As mordidas vinham de todos os lados e iam para todas as partes, com a força se seus caninos. Novamente as unhas dilaceravam tudo o que podiam arranhar e seguiam as curvas dos caminhos que elas mesmas determinavam. Os gritos, que precisavam serem soltos, eram cada vez mais sufocados temerosamente. Carregando o peito com o ar empoeirado. O que dava a vida e aquecia, deixava a pele áspera, exibindo seus poros abertos e suados. O ar, novamente, apresentava outro odor. Agora tinha o cheiro do medo e talvez do receio. Os minutos já não demoravam tanto a passar. Tornaram-se rápidos, acelerados e insuficientes.

Os seres desbravadores, que buscavam se encontrar se encontravam mais perdidos do que antes. Aos seus pudores não caberia um julgamento justo, pois eram perigosos de mais para serem apresentados ou revelados. Eles corriam riscos, pois poderiam cair sob a ira de outros demônios. O que pairava sobre eles, eram apenas as sombras dos caminhos que levaria um deles de volta para casa.

Quando os seres humanos voltam a despertar os fantasmas seguem para sua sombria discrição. Para sua rotina fria e silenciosa. Deixando para trás, aqueles que foram assombrados. As sombras procuram as trevas. Para os que ficam, restam a dúvida e a incerteza do que aconteceu ou de tudo aquilo que ainda está por vir. Com o nascer do sol, o outro foge. Retorna não se sabe para onde. Mantêm o rosto encoberto pelos cabelos ainda emaranhados. Um rosto tão belo quanto misterioso. Já não existe mais nada. Apenas os rastros daquela mulher fantasma, que, não se sabe se queria ser seguida ou não. A única certeza, nesse vazio é o da culpa em uma manhã de agosto.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O direito deles e a sua religiosidade


Mesmo sendo comum um gelo no estômago, quando o Jornal Nacional menciona qualquer coisa sobre Goiás, ainda não me acostumei com o fato de que, quando isso acontece, estamos na mídia nacional fazendo bobagens. A mais recente delas foi assinada por um magistrado. Bacana não é mesmo? Nos damos agora ao direito, de aparecer nacionalmente, fazendo bobagens assinadas por homens “letrados”.

Não sou homo e nem homo fóbico! Será que é tão difícil falar isso?
Bom, isso depende. Depende muito da maneira como você ou qualquer pessoa queira enxergar essa situação. Pelo visto, excelentíssimo senhor “doutô injuíz” da 1ª Vara da Fazenda Pública Municipal e Registros Públicos de Goiânia, Jeronymo Pedro Villas Boas, têm uma visão cômica sobre o assunto.

O homem da justiça fez uma interpretação bem bacana sobre a decisão do TSF. Contestou a decisão do Supremo, alegou que a Corte não seria competente para alterar a Constituição Federal, utilizou-se do artigo 226, determinou comunicado a todos os Cartórios de Registros de Goiânia acerca de união de casais do mesmo sexo e passou a régua. “Satis verborum.”

Tudo bem! Tudo bem! Tudo bem...!!! Não sou o tipo de cara que possam falar que entendo tudo sobre Leis. Concordo. Mas peralá; ele pode fazer isso?
Se Liorcino Mendes e Odílio Torres foram o primeiro casal a oficializar seu enlace, após a aprovação da união homo afetiva, foram também, detentores de outro título. O título de “humilhados nacionalmente por ignorância de homo fóbicos”.

Agora chegou a melhor parte do assunto. Essa parte se chama: desavenças. É neste momento que o texto vai ficando mais tenso. Você lê e me questiona, indaga, discorda, me xinga, critica e mais outras coisas. E eu gosto disso. Então vamos lá. Muitos manifestantes de siglas simpatizantes às atividades gays se mobilizam para tentar reverter o fato acorrido aqui no nosso quinhão de estado. Enquanto eles lutam para conquistar, o que eu concordo que seja direito deles existe, outro lado, totalmente contrario às suas ações.

Esse lado pode ter vários nomes e discrepâncias. É claro que não irei generalizar a todos do segmento, mas também não me desculparei com ninguém que se sinta ofendido. É neste ponto que batemos de frente com a RELIGIÃO e seus seguidores, fiéis e religiosos. Alguns são alienados, fanáticos e dissimulados. Outros buscam ibope, holofotes e mídia. Outros assumem discursos desconexos, esdrúxulos e hipócritas. Mas é claro que não posso falar isso para ninguém. Já que é um fator étnico. E qualquer coisa que eu fale poderá ser interpretada de uma maneira que favoreça apenas um lado. E com certeza, não será o meu.

Assim como é para mim, poderá ser para muitos outros pais, que terão que explicar aos seus filhos, por que os homens se beijam ou se casam. Mas será que seria fácil explicar a eles, por que homossexuais são agredidos, ultrajados ou obrigados a viverem diferentemente de outras pessoas? Como explicar também, por que crianças de colo são violentadas e mortas por seus pais? Por que mulheres são estupradas e agredidas por seus companheiros, que coincidentemente, a maioria é contra a união homossexual?

De um lado, pessoas se apegam à Bíblia para justificar sua postura. Mas esquecem que no mundo terrestre, esse mundinho aqui que vivemos, existem outros dois livros, um chamado de Civil e outro de Penal, que também ditam regras. Mesmo sabendo que não vem ao caso meu ateísmo, prefiro acreditar nesses dois “livrinhos” que temos aqui embaixo, do que num código de conduta e moral, celestial e divina, que eu nem sei se é verdade ou não. Tem gente que vai falar e dar excessos de certezas de que é.

Pronto! Agora sim temos um impasse e eu acabo de adquirir o ódio de muitos de vocês. Que legal! Já posso me preparar para as pessoas que irão me dizer coisas do tipo: “você não é ateu, é à toa”, “Deus precisa tocar no seu coração”, “Deus fez Adão e Eva e não Adão e Ivo” (essa é tensa), e blábláblá....

Nas redes sociais, religiosos tomam os espaços que podem, para justificar seus pensamentos. Direito deles. Afirmam que falar, contrariamente, sobre a união gay, é uma liberdade de expressão. É verdade! Homofobia religiosa nas redes sociais, agora é liberdade de expressão. Achei foi legal o termo, pois isso minimiza os danos deste artigo, uma vez que também estou emitindo minha opinião.

Acredito que todos nós tenhamos espaço nesse mundo de ignorâncias. Mas algumas “tribos” crêem que tenham mais direitos que outros. Nunca vi uma manifestação contra uma igreja que compre uma rádio, mas deixe outra “tribo”, fazer o mesmo. Será um “sacripanta”. Um escarcéu. Um furdunço só. O Divino será ativado. O pecado será o tema da vez. E haverá uma manifestação generalizada, contrária a isso. Mas apenas alguns, poderão dominar as rádios e TV’s, jornais e revistas, pontos comerciais para novas igrejas e templos “megaputaqueparívelmente” gigantes. Mas ficaria sempre uma pergunta: onde está o seu direito? Onde está o direito de nossos semelhantes, que são gays, mas pagam impostos e tenham sentimentos, mesmo que diferente dos seus? E onde foi escrito mesmo, aquela paradinha, que fala que o Estado é Laico?

Agora você tem todo o direito de discordar disso. Desde que os seus direitos e vontades, não tentem ceifar os meus.
Qualquer coisa comenta aí em baixo. Prometo irmão, publicar todos eles. Uma vez que afirmei, que todos nós, devíamos respeitar os alheios.

sábado, 9 de abril de 2011

Feliz dia do jornalista! (Atrasado)

- Pai, mãe... Passeiiiiii!
- Puxa vida, que professor chato...
- Adoro telejornalismo. Deve ser legal aparecer na TV não é mesmo?
- O quê? Estágio só depois do sétimo período? Pôxa, vou estar quase me formando...
- Agora eu sou formado (a)...
- Até que enfim saiu meu registro...
- Como assim? Não precisa mais de diploma?
- É eu queria TV, mas meu amigo montou um jornal e pediu minha ajuda...
- Caraca, você já viu o salário do Bonner?
- Desde a faculdade ele (a) sempre foi assim...
- Quando fizer um ano que me formei, não serei mais foca...
- Posso fazer um salário legal. Jornalista só trabalha 4 horas por dia. Posso ter mais de um emprego.
- Nossa, acham sempre que todo jornalista é viado...
- Putz...tem viado de mais...
- Aff... não tem nem gravador?
- Ei colega, me ajuda a arrumar um trabalho? Tive que sair do jornal.
- Olá! E a revista te pagou, ou ainda estão te enrolando?
- Ahhh, vamos marcar com a turma para tomar uma.
- O quê? Minha a pauta caiu de novo?
- Me colocaram no plantão desse fim de semana de novo...
- Trabalho de domingo a domingo. Não tenho nem feriado...
- A grana ta curta. Não ta dando pra nada...
- De manhã to no jornal e a tarde fazendo assessoria...
- Eu sou assessor...
- Eu odeio assessor que não sabe atender nem informar o que precisamos...
- É tenso! Mais de 30 minutos no telefone e o assessor não sabe de nada...
- To tentando marcar entrevista mas não consigo localiza-lo...
- Não atende o celular.
- Desligou. Não quer falar.
- Nossa. Cortaram a metade do meu texto! #$%¨*
- Você acredita que ele ainda queria ver o que escrevi antes da matéria pronta?
- Na hora da entrevista ele queria falar o que eu deveria escrever.
- Se formou na Federal. Por isso é assim...
- Se formou em particular. Por isso é assim...
- Cadê o motorista? O quê? Não tem carro?
- Preciso andar logo, tenho outra pauta para cobrir antes de fechar a edição.
- Meu cabelo está bom?
- Posso entrar?
- Vou fazer essa passagem rapidinho. O sol está muito quente.
- Várias pessoas estão desaparecidas. As chuvas não param.
- A população está inconformada...
- Mais um caso de gêmeos siameses é atendido no Materno Infantil...
- Espera... eu estou suando...
- Deve estar dando pra alguém. Subiu muito rápido.
- Vamos criar um perfil e só falar coisas difíceis?
- De agora em diante, vamos falar só nomes de bebidas bacanas e lugares caros...
- Fui demitido (a)...
- Estou fumando muito...
- Estou tomando muito café...
- Acabou o café da copa?
- Você tem um cigarro?
- Estou virando as noites...
- Putz... que porre. Estou de ressaca.
- O salário ta muito baixo...
- Esse povo da Tv se acha...
- O pessoal do impresso se acha...
- Que voz feia. Como ela foi parar no rádio?
- A greve dos médicos continua...
- Centenas de pessoas estão sem atendimento...
- Os riscos de uma contaminação são grandes...
- É... o político quer me processar...
- Ele me processou...
- Chega pra lá. Também estou trabalhando...
- Ele deu um chá de cadeira em todo mundo e não falou com ninguém.
- Abaixa um pouco sua câmera...
- Nesta manhã, os motoristas tiveram uma surpresa nas bombas de combustíveis.
- Ainda não sabemos ao certo o que aconteceu. Vamos tentar chegar mais perto...
- Aqui ta legal? Ta pegando aquele fundo ali? Pode começar?
- Daqui os tiros já podem ser ouvidos...
- Nesta manhã, o Brasil amanheceu de luto...
- Lembra da foto do “Menino e o abutre”?
- Boa noite!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Falta ética e sobra hipocrisia


Hoje ao observar as conversas de meus amigos muitos virtuais e vários pessoais, me deparei com a seguinte pergunta: “ENQUETE ÉTICA: Vc. Acha que jornalista pode e deve ter lado político? E se tiver, o jornalista deve revelar qual é o seu lado?”.

A pergunta é extremamente interessante, mas talvez, não seja muito fácil de ser respondida. A questão entre o jornalismo e a tão famosa, dita e imaginária ética, sempre foi e sempre será, uma máscara de dois lados. Particularmente, tenho lá minhas dúvidas sobre o verdadeiro sentido da palavra “ÉTICA”. A meu ver, a ética é algo próprio e individual. Uma espécie de “código de conduta”, onde cada qual pode alterá-lo ou reescrevê-lo, ao seu bem próprio, segundo seus interesses.

Atrevo a comparar a ética com a humildade. Entendo que são duas palavras de peso, mas que são facilmente confundidas. Para mim, a humildade consiste no poder, que cada um tem, sobre o direito de reconhecerem suas limitações. Sabendo respeitar as distâncias entra sua capacidade de poder, ser, saber ou agir em comparativos feitos, de si mesmo, com outros que lhes sirvam de exemplo. Para outros, a humildade é vista como a obrigação que você tem em comer os excrementos que outros descarregam.

A “ÉTICA” pode ser assim, uma bandeira ilusória, que muitos citam na tentativa de se tornarem mártires, buscando uma realização pessoal, profissional ou apenas uma encenação para esconderem suas próprias hipocrisias. Aliás, gosto muito da palavra “HIPOCRISIA”. Ela serve para definir bem a personalidade de muitas pessoas que encontramos no dia-a-dia.

Mas voltando à enquête lançada, jornalista deve ter lado político sim! Porém, antes de ter lado político, o jornalista ou profissional de comunicação deve ter, acima de tudo, bom senso. Isso mesmo. Bom senso. Esta é uma qualidade que todos deveriam ter, não apenas jornalistas, mas todos os profissionais de qualquer área.

O jornalismo e seus membros se tornam alvos fáceis desta discussão. Afinal de contas, somos nós, os primeiros a noticiar as coisas que acontecem em nosso meio habitual de vivência e atuação.

Mesmo acreditando que essa “parcialidade” deve existir, mesmo sabendo que todos deveriam ser imparciais, sei assim como você, que a imparcialidade também ficou nas aulas teóricas sobre jornalismo. Mas é aí que entra aquele “negocinho”, o bom senso.

Sabemos que existem vários tipos de jornalistas. E quando falo isso, não falo de tipos de personalidades. Falo sobre tipos de atuação. No meio político temos vários tipos e vários nichos de trabalho. Eu por exemplo, sou um jornalista de agência. Então, meu foco é tornar a vida de meus assessorados a mais tranqüila possível. Eu posso ter lado, opinião e ações que buscam favorecer esses clientes. Estou sendo antiético? Não.! Estou fazendo meu trabalho da maneira como foi solicitado e buscando atender as exigências de quem precisa dos meus préstimos. Aviso: apenas em horário de trabalho. Sei que pode ser meio confuso isso tudo. Mesmo sabendo que não sou, em muitas vezes, o tão imparcial como manda a cartilha ética, acho que também não deixo a ética de lado, fazendo o que tenho que fazer. Complexo não é mesmo? Sei que muitos irão discordar. Mas como a ética é minha, eu a reescrevo dentro dos meus próprios interesses. Mandem a conta que depois eu pago o preço pelas minhas palavras.

Mas existe outro tipo de jornalista. Esse tipo trabalha para veículos de comunicação, onde a grande maioria usa bordões de imparcialidade, mas que para funcionarem, precisam de verba. E nós sabemos de onde vem essa verba. Voltando aos jornalistas, estes sim devem ter um cuidado maior não apenas com a qualidade de seu trabalho, mas também, com aquilo que representam. Considero que seja um pouco mais complicado trabalhar em uma rádio, TV, jornal, revista ou site em que você deve, obrigatoriamente, estar se policiando.

Não adianta você dizer que o veículo de comunicação, no qual você trabalha, é imparcial e na verdade ele não ser. Não adianta um veículo se por a uma posição intocável e irretocável quanto sua credibilidade e assim como seus jornalistas “imparciais”, darem explícitas demonstrações contrárias às suas versões ou ações.

Nesse emaranhado de gato, o que reflete é a opinião de quem recebe sua informação. Você jornalista de lado definido, pode ter sua opinião sim, mas deve se ater ao “BOM SENSO” de saber como expor isso. Se quer realmente ser um formador de opiniões. Falar que ter lado e achar que isso é ter uma espécie de credibilidade, pode até ser, mas propaganda explícita, peleguismo, puxa-saquismo, subserviência pública e escancarada, que chega a ferir a paciência alheia, já se torna “HIPOCRISIA”.

Ser FAKE de jornalista de transparência, também não esta com nada. Tenho muitos amigos na profissão, que tem seus lados políticos definidos, e que executam um primoroso trabalho profissional. Isso é fácil de fazer. E poderia enumerar vários nomes aqui, que tenho certeza que você poderia não compreender, mas sei que concordaria, simplesmente pela postura que eles tem como profissionais.

Portanto, vemos que ter lado não é difícil nem é proibido. O difícil mesmo, é saber como você pode influenciar positiva ou negativamente com o seu lado e com suas opiniões, por vezes, cômicas. Quanto à imparcialidade, ela fica por conta de cada um. Mas desde que saibam que se dizer “imparcial”, implica uma responsabilidade muito grande, onde as maiores cobranças, surgem daqueles acompanharam suas notícias. Você se torna um pedaço de carne exposto em um açougue. Dependerá muito, do seu consumidor, definir o que você pode parecer para ele. Uma carne de primeira ou de segunda.

terça-feira, 15 de março de 2011

Se atirar em @22vanderlan acerta @PauloGarciaPT ?


Como tenho dito; “o saco da ambição nunca enche”. E estas são as provas que podemos obter devido aos constantes ataques que algumas pessoas públicas vêem sofrendo no período pós-eleições, já de olho nas próximas eleições. Assim como os trabalhos dos bastidores e articulações para a disputa do Governo de Goiás em 2010, começaram de maneira bastante antecipada, a disputa para prefeitura de Goiânia em 2012, também aflora de maneira precoce.

Já temos pré-candidatos, que apesar de optarem em “esconder o jogo”, deixam claro que estão no páreo para esta disputa de maneira não tão velada assim. Este é o caso do senador reeleito Demóstenes Torres (DEM), e do deputado estadual Fábio Sousa (PSDB). Entre os dois, existem pontos favoráveis para as candidaturas de ambos. O democrata, ao longo dos anos, apresentou um trabalho respeitoso, com ações e propostas que ganharam notoriedade não apenas por suas propostas, mas também, pela eficácia das medidas que foram aplicadas em seus projetos. Enquanto isso, o deputado tucano, conta com o apoio da legenda. Cá para nós, é inegável que o apoio de um partido da conjuntura e peso do PSDB, é um apoio bastante significativo para qualquer pessoa, mesmo para as de menores significâncias.

Antecipando as tendências políticas, alguns partidos já começaram suas campanhas eleitoreiras, de olho comprido na cadeira do Paço Municipal. Mas como seria esta estratégia? Bom, a resposta é simples: O ATAQUE. Na mira da artilharia estão nomes conhecidos e vários outros nomes, que foram embarcados na canoa, na esperança que pelo menos estilhaços, os firam no mínimo de raspão.

A hipótese de filiação do ex-candidato Vanderlan Cardoso ao PMDB, o colocou como alvo principal deste fogo direto. Vanderlan recebe hoje, mesmo estando reservado e silencioso, fortes rajadas da infinita artilharia adversária. A sua possível filiação à legenda de Íris Rezende, também ex-candidato em 2010, parece incomodar inúmeras pessoas. Se o jogo já não fosse conhecido, seria até surpreendente. Mas, feliz ou infelizmente, estas cartas estão “marcadas”. A tática prevê que abrindo ataques a Vanderlan, a uma filiação ao PMDB, ao seu discurso de campanha, ao mote de “diferente” e ao seu apoio à Íris no segundo turno, possam estar eliminando, um possível candidato, a uma nova disputa do candidato ao governo em 2014.

Atacando Vanderlan, esperam ainda, apagar a imagem administrativa do prefeito Paulo Garcia (PT), já que sua legenda possui aliança com o PMDB. E também pelo fato, de que Paulo ocupa hoje, a cadeira que está dentro dos interesses alheios. Os mesmos que montaram esta situação de sítio para a disputa.

O jogo é sujo, mas ainda não foi visto como imoral. Mas qual seria o plano? Bom, a resposta também é muito simples: atacando Vanderlan e Paulo Garcia, iniciam-se o processo de desconstrução de imagem de ambos os políticos. Vanderlan não pode ser candidato à Prefeitura de Goiânia, pelo fato de ter abdicado do cumprimento do seu mandato, enquanto prefeito de Senador Canedo, para disputar as eleições no ano passado. Este fato o impede de disputar a Prefeitura, apesar de pouco provável que esta fosse a sua intenção, já que o político se laçou a vôos mais altos. Então, a preocupação que Vanderlan gera hoje, em “desafetos políticos”, é a sua possível candidatura ao governo novamente.

Já para Paulo Garcia, sobra a intenção de desqualificá-lo enquanto prefeito da capital. Alegando, a meu ver, erroneamente, que sua administração é apagada e ainda atrelada à administração do ex-prefeito Íris Rezende. Como munição, tenta atribuir a ele não responsabilidades, mas sim, culpas, acerca de temas revirados de forma negativa neste processo. É por este motivo que assuntos como o Zoológico e o Parque Mutirama, se tornaram freqüentes, nas redes sociais e em toda oportunidade que encontram. Ou seja, Paulo está no caminho. Como ele é candidato natural à reeleição, precisa ser eliminado.

Varrendo a estrada agora, apostam alguns, que isso facilitaria a tomada do poder em 2012. Porém um outro lado ainda não foi pensado, ou se foi, foi escondido até agora. Se Desmóstenes tem interesses na disputa do Paço, e Fabio Sousa, aparentemente, tem a benção do PSDB para a mesma disputa, e as duas legendas são aliadas, ou pelo menos “era”, como ficaria esta aliança para o ano que vem? Dois candidatos dentro de uma mesma aliança ou não haveria mais este “acordo de cavalheiros”? Caso isso aconteça, quem ganha mais uma dose de força dentro do DEM é o Deputado Caiado.

Resumo da ópera: batendo agora em Vanderlan, tira ele do governo. Batendo em Paulo Garcia, tira-se ele da prefeitura. Alguns outros, assumem o domínio do estado e de sua capital, e o poderio seria absoluto. De quebra, vão atirando de raspão em pessoas como Ernesto Roller, relembrando a administração de Alcides (missão incumbida a alguns veículos de comunicação), e passamos o trator em cima, dos que cruzarem o caminho.
E olhem que 2012 ainda nem começou. Mesmo assim, Feliz Ano Novo para você e muita sorte. Mas muita sorte mesmo. Vamos precisar.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O jornalismo e a política



Todos nós sabemos que a cada dia a política vem se tornando um campo de disputa de profissionais. Sejam eles, agentes políticos ou agentes e veículos de comunicação. A introdução do marketing eleitoral não é uma moda tão antiga no Brasil. Ainda é possível lembrar o período em que esta união foi posta em prática na Federação. Na ocasião, Fernando Collor de Melo, fez bom uso da nova arma. Apesar de ter sido esta mesma casta de profissionais, que apimentaram o seu impeachment. A meu ver a história se equivoca ao afirmar que tudo foi uma manifestação popular. Mas se isso torna nossa gente mais feliz, deixem que acreditem nisso.

A moda tomou conta, com o passar dos anos, dos estados e dos municípios. Exemplos assim, não são difíceis de serem encontrados em Goiás. Isso fez com que a procura de “marketeiros” tivesse uma alta considerável não só em anos de eleições, mas também, nas “entressafras eleitorais”. Muitos prefeitos apostam sua administração nas mãos de profissionais e agências especializadas. E esta união, muitas vezes, difere e pode até mesmo, melhorar uma administração. O empenho destes profissionais pode facilitar e muito, a relação entre seus gestores e seus munícipes.

Nesta disputa “midiática”, muitos profissionais e veículos de comunicação, acirram o duelo. Os interesses que cercam estes grupos, por mais variados que sejam não se distanciam muito dos propósitos. Porém, existem neste meio, alguns mais discretos e outros, nem tanto.

Porém, independentemente de seus interesses, um veículo de comunicação, jamais deve faltar com o respeito a nenhuma classe. Portanto, qualificar um partido como “destroçado”, talvez não seja uma ação muito coerente. Até onde consta, o jornalismo deve ser factual e imparcial. Defesas abusivas, explicações descabidas e exageradas e críticas grosseiras, jamais devem partir de qualquer um destes veículos, quando estes se afirmam: imparciais.

Ao que podemos ver este ciclo de subserviência entre o jornalismo e a política e o poder, extrapola os limites do respeito, não apenas com quem se sentem no direito de difamar, na tentativa de desconstruir suas imagens. A indignação pode, e sempre atinge aqueles que acompanham suas publicações ou transmissões. Essas reações, quando somadas, geram uma natural quebra da credibilidade que tentam “vender”.

Infelizmente, o nosso jornalismo se tornou enlatado com materiais prontos e engessados. Seus maiores remetentes são os assessores daqueles que são defendidos. A cada edição, maior é o número de materiais assinados pelas redações. Esta seria uma forma de se eximir das responsabilidades de seus próprios atos? Todos nós sabemos que sim. Mas o pior é saber que tudo tende sempre a piorar.

Na pior das hipóteses, a única coisa que nos alegra, é saber que “colegas” de profissão, não estão mais reclamando de salários atrasados. Isto tudo ao preço da desmoralização da categoria. Mas, como dizia o profeta: “O que é de gosto, arregala a vida”!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Causos políticos


Trânsito, transporte coletivo, saúde, educação, cidadania, qualidade de vida, auxílios populares, moradia, centros de excelência, serviço público e outros temas, fazem parte do extenso discurso às vésperas de qualquer eleição no Estado. Os temas são de primordial atenção e de grande importância para os que mais dependem das promessas feitas. A exaltação do vocabulário é elevada ao ápice do orgulho, com peitos estufados, que se enchem ao proferirem: “eu fiz” ou “eu farei”. A força destas palavras enxerta um novo vigor na esperança dos que acreditam, mais uma vez, que tudo terá um final feliz.

Mas até chegar a este final, muita estrada precisa ser percorrida. E sabemos que a distância entre a teoria e a prática real, da solução destes problemas e o cumprimento destes compromissos, é demasiadamente longa. Neste trajeto, muita coisa pode ser perdida ou se perder. Somos bombardeados, todos os dias, com a uma grande quantidade de provas, que mostram o quão dura pode ser percurso e é claro, o tamanho das cobranças e insatisfações que podem vir por trás de delas.

Infelizmente, não podemos nos apegar ao fato de que vivemos em um estado único e que isso só acontece em terras do cerrado. Mas é claro que todos deveriam se preocupar mais com o seu “torrão”. Os problemas existentes aqui, são motivos mais do que suficientes, para merecerem uma atenção maior por parte de qualquer administrador.

Muito precisa ser feito na prática e não apenas em devaneios de discursos eleitoreiros. Falaram que o dinheiro que solucionaria o “buraco Olímpico” estava nas contas e o que faltava era “vontade” para acabar com tal paisagem. Então! Por que ainda o buraco continua lá? Onde está o dinheiro para tal fim? A copa virá mesmo para Goiânia? Se vier, será preciso uma verdadeira olimpíada para que problemas assim sejam solucionados.

Já está tudo “zero bala” naquele local de manifestações culturais, exposições, eventos e não sei mais o quê? O tal espaço, se tornou personalidade de fábulas como o “elefante branco” da nossa história. Enquanto movimentos culturais fazem Rock por ele, a realidade mostra que aquilo virou o “samba do crioulo doido”.

O CRER é realmente algo primoroso. Mas por que só existe um? Coisa boas como ele deveriam existir aos montes, em todos os municípios. Ou pelo menos, em cidades estratégicas que tivessem estrutura para atender adjacências. O Materno Infantil também é referencia. Mas... coitado, tem tantas dificuldades. O pior é que ninguém percebe isso. Será? Mas ninguém fala dele, a não ser que Zacarias separe siameses.

Na verdade, neste monstruoso circo de horrores, as atrações são abundantes. Mas quem se pergunta pelo povo? Talvez ninguém pense nisso. Mas alguém pensou em pedir desculpas para a Cindy, pelo nosso aeroporto. Coisa bacana heim!?. Mas a meu ver, foi um gesto perdido, que serviu apenas para expor, ainda mais, a nossa fragilidade administrativa e as mazelas diárias de quem realmente vive aqui. Acho que a frase correta deveria ser: “Sorry povo goiano”, pois é este povo, que enquanto alguns contam causos, são os que realmente recebem o pito.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quem é o marginal?

Brilhante e perspicaz. É assim que qualificam a operação da Polícia Federal. A ação batizada de “Sexto Mandamento” buscou desmantelar e prender militares membros de “supostos” grupos de extermínio. A ação é legal e necessária. Se existem abusos, estes abusos devem ser cessados.

A Operação levou à prisão, vários policiais militares das mais variadas patentes, dos mais rasos aos mais graduados. Uma coisa linda! Anos de investigações, estudos, grampos telefônicos, documentos, provas e blá blá blá. Coisa de cinema. Moral da história: Goiás nas manchetes (novamente fazendo cagada), militares marginalizados (não digo que não existam culpados ou errados), fogos de artifício (bum, bum, bum) e a notícia na mídia durante vários dias. E agora? O que de fato aconteceu? “Mermão, de qual que é a parada”?

As opiniões das pessoas tomam as mais variadas vertentes. Os militares presos, já foram algemados e imediatamente condenados pela grande massa da opinião publica, antes mesmo de serem embarcados pela “gloriosa, competente, límpida e transparente POLÍCIA FEDERAL”.

Os melhores investigadores do país estão lá. Os melhores delegados estão lá. Os melhores agentes estão lá. E foram estes “melhores” que tiveram participação nas ultimas ações da PF no Estado. Quem se lembra da operação realizada na cidade de Jaraguá no primeiro semestre de 2010? Acho que se chamava Piratas SA. Aquela ação que queria acabar com a pirataria têxtil na cidade. Lembrou? Aquela ação que mostrou imagens de policiais federais invadindo residências, acho que tinham mandato. Que tinha aquele, altamente preparado policial federal, apontando uma arma para duas meninas deitadas no chão ainda com suas roupas de dormir. Que filmaram imagens de homens e mulheres sendo retirados de suas camas, à força, logo no amanhecer do dia. Cheguei até a escrever algo sobre o assunto aqui http://pontogeral2.blogspot.com/2010/04/piratassa-acao-nao-legitimada-pelo.html

Mas voltemos ao assunto da moda. O Sexto Mandamento parece ter nascido no meio de um furacão, onde algumas pessoas chamam de justiça e outras de politicagem.

De um lado estão familiares de pessoas desaparecidas. Algumas sem terem pistas e talvez esta pudesse ser a hora de colocar a culpa em alguém. Azar herdado pelos militares acusados. Ou seja, acusaram os caras, até mesmo de crimes que ainda não tiveram suas investigações concluídas. Lógico, eles foram colocados como “suspeitos”. Mas “suspeito” pode ser qualquer um. Pode ser eu ou até mesmo você. Nõ desrespeito a dor destas famílias, mas acho que alguns, não todos, mas alguns, aproveitaram o fato para buscarem um alento sentimental ou espiritual, para atribuir a “investigados” a culpa pelo desaparecimento de seus entes.

Do outro lado, temos a ala militar. Pais, mães, filhos, irmãos, irmãs... Ou seja, mais gente que também busca justiça. Mas de qual justiça estão falando? Milhares de homens e mulheres promovem a segurança pública de Goiás todos os dias. Estas pessoas também tem família. Mas e daí? Para a grande maioria das massas isso não importa. A população põem a boca no mundo e fala sua opinião. Camarada teve carro multado, caiu em blitz, levou baculejo ou qualquer coisa do tipo e já acredita que a polícia é corrupta. Isso é natural nessa minha gente. Cidadão não se sente satisfeito com algo do Estado em que reside e já veste logo a beca de juíz e manda todo mundo pro pau. Execução sumária. “Polícia é tudo bandido”. Para muitos esta é a regra.

Noticiaram que muitos desaparecidos não possuíam passagem pela polícia. Mas quantos marginais estão à solta e que nunca foram presos. Então eles são “ficha limpa” não é verdade? Até procuro evitar minha opinião extrema no meu texto, para não ser chamado de anti-Cristo. Mas enquanto cidadão, que depende de segurança pública, assim como a minha família, amigos, chegados, bródis ou seja lá o que for, me sinto igualmente indignado, tanto quanto estes que, popularmente e precipitadamente, julgaram os policiais investigados.

Aliás, as precipitações foram abundantes neste caso. É notório a intervenção política no caso. Por um lado é bom e necessária. Pois se trata de um assunto de ordem publica e interesse público. E acredito que seja para isso que existam os políticos. Não condeno a comitiva que vai até o presídio federal, em Mato-Grosso do Sul, averiguar a situação dos policiais detidos. Os direitos humanos briga pelos direitos de muitos marginais todos os dias. Se os policiais militares são mesmo assassinos, então eles são marginais. Se eles também são marginais, qual a diferença entre eles e os outros marginais presos? Então ele também tem direitos humanos. E fim de papo.

Agora, querer condenar, ainda mais os suspeitos, sendo que já foram liberados alguns deles por falta de provas, e lhes aplicar uma pena ainda maior não passa de demagogia e desconhecimento de causa.

Esta manchete suja não apenas o nome da Polícia Militar de Goiás, como também suja o nome do Estado de Goiás. O pior é que estamos na mídia o tempo todo por causa de uma ação que acontece em todos, eu digo TODOS, os estados brasileiros. Se existem policiais sendo marginalizados, o Poder Público tem que agir sim. Se existem policiais “marginais” o Poder Público tem a obrigação de agir mais ainda. Um preso comum não ostenta o nome de instituições públicas como estes militares presos. O dinheiro público é gasto com presidiários todos os dias e ninguém fala nada. Mas agora estão se achando no direito de falar da “beatificação do dinheiro público” pelo fato de políticos goianos irem até o MS averiguar as condições de membros da corporação. Eles tem que ir mesmo. São policiais nossos, que sendo culpados ou não, devem ser condenados apenas após julgamento. E são eles que representam a PMGO, sendo bons ou não.

A maior vergonha nessa história é a de misturar interesses públicos aos interesses particulares. Vergonha é tentar sujar o trabalho de um outro, apenas por interesse político, enquanto o maior problema continua sem solução. Culpar governos, ex-secretários, antigas administrações ou falar que já sabia desta investigação é fácil. Mas e as soluções?

Nesta busca insana e irresponsável de buscar culpados, misturar política com justiça, opinião pública emocionada e de literalmente tentar “fritar” adversários políticos, o assunto “Sexto Mandamento” se perde e as soluções e provas da verdade se tornam cada vez mais distantes. E digo que entre um marginal de gravata, bermudas ou de farda, prefiro o de farda. Acredito que ele tenha um pouco mais de ética que os demais.