Não causaria nenhum tipo de estranheza se Carlinhos Cachoeira fosse condecorado com alguma ilustre homenagem ou escolhido o homem do ano. Com as denúncias que assolam a política e seus feitores, as revelações que pingam por meio de vazamentos misteriosos, ainda são insuficientes para se obter qualquer tipo de parecer conclusivo ou amplo, da influência de Carlos Augusto de Almeida Ramos, pelos diversos setores por onde expandiu seus negócios. O bicheiro se tornou uma espécie de “dedo podre” após a sua prisão. Os depoimentos amedrontados, com a negativa de qualquer tipo de conhecimento ou ligação com o bicheiro e seus negócios, soam como uma frase ensaiada. Quase um jargão.
Com grande repercussão, as ações do contraventor ocupam o primeiro lugar das redações. Como Cachoeira já deixou mais do que claro que é um homem inteligente, as gravações revelam entre citados, nomes de jornalistas supostamente ligados e beneficiados com as suas atividades. Isso foi um fato que colocou sob suspeita, grande parte dos veículos de comunicação e colocou a imprensa na função de investigadora e de investigada ao mesmo tempo. Sob a suspeita de terem tido seus exemplares “seqüestrados” das bancas, uma revista ganhou notoriedade inesperada, devido a uma manchete sugestiva. O que lhe rendeu mais do que apenas 15 minutos de fama. Atualmente, muitos destes veículos, vêm sofrendo insinuações de que pertencem a um ou outro grupo político, o que estaria promovendo uma série de denuncias, como mísseis lançados entre nações inimigas.
Em Goiás, foi anunciado que o bicheiro também era atuante no ramo das comunicações, onde é atribuída a ele a propriedade de rádios, canais de televisão e mais uma série de “parceiros” do setor. Suas atividades se tornaram notícia, movendo prensas, câmeras e gravadores. Porém, na esperança de desenvolver algum tipo de draga para escoar toda essa água, nomes não identificados que surgem em suas gravações, são ligados por dedução ou suposições pela semelhante grafia, a nomes da imprensa local. O que deflagra ataques aos mesmos e também às empresas em que trabalham. É como se na falta de maiores informações, criam-se fatos, apenas para manterem o debate aceso.
De forma onde não há chances para explicações, jornalistas são envolvidos por uma série de acusações, que provêem em sua maioria, dos próprios colegas, que buscam a qualquer custo se beneficiarem da situação, mesmo na ausência de provas. Descartando princípios básicos de averiguação e checagem das informações, os julgamentos dos que se antecipam à confirmação de fatos, e promovem uma verdadeira caça às bruxas, tem solicitado suas degolas ou incineração. Estes “juízes” transformam em réus, pessoas que sequer se sabe, se tiveram algum tipo de negócio extra com o contraventor ou se beneficiaram, além de apenas obterem a notícia ou informações privilegiadas. Mesmo assim, o que não falta são pessoas que se propõem a serem executores sumários de seus possíveis desafetos e concorrentes.
Em caso recente, a tentativa de denegrir a imagem de dois jornalistas, teve o propósito único de tentar lhes aplicar a pena do descrédito de uma maneira precipitada. As acusações mais pareceram uma intenção de desviar o foco das denúncias que ameaçam posições e cargos. Chegando a sugerir que a empresa de um dos citados, pertencia ao bicheiro. Com uma visão, talvez mais lúcida da atual situação e do agravo das denúncias ainda sem provas, muitos profissionais da própria imprensa e políticos, se empenharam em defender e acreditar na postura de idoneidade dos acusados. Se existem provas que possam realmente comprometer os citados, o coerente seria esperar que elas fossem divulgadas. Evitando assim, prejudicar pessoas, que contra elas nada foi indicado.
Casos assim não são totalmente desconhecidos em Goiás. Sendo um estado tradicional em suas culturas, a tradição de se perseguir jornalistas e afins faz parte de maneira perene, da história de alguns governos. Alguns recentes números já começam a ser revelados, provando que em terras goianas, esta é uma prática mais do que comum. Segundo ventilam aos ouvidos da imprensa, quatro jornalistas já foram demitidos devido a pressões feitas, ao que se entende, por forças maiores. Enquanto isso, a informação goiana parece viver sob a sombra da ditadura, onde jornalistas ainda são afastados de suas funções em estatais, caso não usem as pautas marcadas para divulgarem informações que atendam as exigências de grupos específicos. Como esta crise ainda está em seu começo, essa listagem de nomes que poderão ser colocados na mira de novos ataques, tende a ganhar mais membros, assim como os números de possíveis novos demitidos.
Na atualidade, diante dos fatos que surgem, a imprensa e os veículos de comunicação se dividem em dois grupos: os que escrevem sobre fatos e situações e os que defendem a situação ainda dominante. Produzindo uma nova espécie de ética e seu próprio código de conduta, inventando formas sutis, para questionarem absurdamente, aqueles que não conseguem silenciar ou que não dividem com estes, a mesma visão da realidade dos fatos.
Se o jornalismo se incumbe da função de mostrar o que não querem que seja visto, com certeza, Goiás é um estado que provavelmente, não tenha o direito de ter uma imprensa livre.
Este artigo foi publicado no Jornal brasil247.com
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